No Brasil, "Cinquenta Tons de
Cinza" virou febre e em um pouco mais de um mês, vendeu mais de 300 mil
cópias. Os direitos para o filme já foram comprados por Hollywood por
cerca de US$ 5 milhões. A trilogia é a mais picante na lista de
livros mais vendidos em anos. A obra conta a história da submissa jovem
estudante Anastasia Estelle, que se envolve com o bilionário Christian Grey.
Tudo isso, recheado de sexo explícito.
Essa
semana, E L James - autora da trilogia - concedeu uma entrevista ao
"Estadão". Confira abaixo:
Estas
são as suas inspirações?
Sim. Quando li sobre sadomasoquismo, pensei como seria me
encontrar com uma pessoa que estivesse nesse mundo. Foi assim que começou. Era
originalmente uma história saída do site de Crepúsculo - Fanfiction. Nunca
pensei que iria publica-lo, ou pensei que, se publicasse, seria cheio de
restrições.
A história Submissive no site fanfiction é
muito similar à sua trilogia. É uma inspiração direta?
Chama-se O Dominador e a Submissa, além de quatro outros
que li. Mas não quero dar o nome das histórias porque algumas eram muito mal
escritas.
Você acha que livros eróticos não podem ser
bem escritos?
Eu acho que você pode escrever de qualquer maneira.
Algumas pessoas não gostam do meu estilo de escrever, mas é assim que eu sou,
casual. Se as pessoas não gostam, é problema delas. Mas muitas gostam.
Stephanie Meyer é sua clara inspiração. Você
já conversou com ela?
Não. Mas ela foi muito gentil em uma entrevista recente
sobre seu novo livro, A Hospedeira. Ela disse que meus livros não são o seu
gênero preferido, mas me desejou toda a sorte do mundo, o que eu achei muito
legal. Adoraria encontrá-la para agradecer pela inspiração. E ela inspirou
centenas de milhares de mulheres a começar a escrever. Crepúsculo é uma
história muito erótica, apesar de não ter sexo envolvido.
O sucesso surpreendeu você?
Não esperava isso. Quem poderia imaginar que uma história
tão obscena fosse se tornar popular assim. É extraordinário. Os números das
vendas são insanos. Como eu nunca tive essa experiência antes, não sabia se
eram bons ou não. Eu lembro de a editora me ligando para dizer que uma loja
tinha acabado de vender 22 mil cópias, e eu perguntava: 'Isso é bom?'.
Como todo esse sucesso, você se compararia
com J. K. Rowling, por exemplo? Daria conselhos a ela, que agora lança seu
primeiro romance adulto?
Não me comparo com ninguém. E, claro, ela não precisa de
conselhos. Adorei os livros e os filmes do Harry Potter. Li e vi todos. Lembro
de sempre estar ansiosa pelo próximo livro. Era tão épica aquela saga. Mas
escrevi Cinquenta Tons de Cinza para mim. Foi divertido escrever. Aquelas são
as minhas fantasias. Claro, tendo por base as fantasias de outras mulheres, o
que faz com que eu me sinta menos pervertida (risos envergonhados).
Como foi o processo de criação?
Não tinha ideia de onde a história ia. Gastei cada hora
disponível escrevendo. Eu trabalhava meio expediente na época. Comecei a
escrever e virou uma obsessão. Escrevia no BlackBerry no metrô e pensava na
trama enquanto dirigia. Parei de sair, de ver TV.
Você procurava por sadomasoquismo no Google?
Fiz muita pesquisa, mas foi bem mais específico que isso.
Há uma quantidade enorme de informação na internet sobre esse assunto. Mas, no
meu livro, Anastasia não é submissa, então este não é um livro de
sadomasoquismo.
Mas a história é repleta de detalhes... Li
que você ligou para uma loja de automóveis para saber se um casal teria espaço
para fazer sexo no banco de trás de um Audi.
Essa história é hilária, mas não posso contar agora, pois
está no terceiro livro que ainda vai ser lançado no Brasil. Tenho uma
imaginação muito viva, podemos dizer assim. Visitei sex shops também.
Livros eróticos sempre existiram. Você é
responsável por tornar o gênero pop. O que faz o seu livro ser diferente?
É uma história romântica, de paixão. E quando as pessoas
se apaixonam, elas fazem muito sexo, é isso o que acontece. Christian faz sexo
de uma maneira particular. Ele não faz amor, pois tudo para ele é relacionado
com poder e controle. Outros livros do gênero têm uma linguagem muito pesada.
Não uso essa linguagem e a descrição do sexo é sutil. Geralmente, as mulheres
não gostam de palavras pesadas.
Que livros você indicaria para quem se inicia
no gênero?
Há vários: Beautiful Disaster, de Jamie McGuire, por
exemplo. Acabei de ler Shadows of Night, de Deborah Harkness, é o segundo livro
de uma trilogia chamada All Souls. Quando eu tinha 30 e poucos anos, li vários
livros de mulheres como Brenda Joyce, Noel Roberts, Judith McNaught, são mais
românticos, sem sexo explícito. Devo ter lido umas 600 histórias naquela época.
As mais pornográficas talvez tenham sido as de uma série chamada Black Lace.
O que acha da opinião negativa? Homens
queimaram seus livros nos EUA e há quem diga que seus livros são mal escritos.
O que acho mais fascinante é que as pessoas começam a ler
e não conseguem parar. E foi exatamente assim comigo quando li Crepúsculo. Essa
onda de opiniões negativas é só barulho no fundo. Felizmente, a maioria tem
gostado, então, nesse aspecto, eu realmente fiz sucesso. As mulheres amam meus
livros. Recebi o e-mail de uma mulher dizendo que não lia nada há 28 anos, e
terminou Cinquenta Tons em três semanas. É uma leitura fácil. E quem não gosta,
tem o direito de não gostar.
Você trabalhou como executiva de um estúdio
de TV por 20 anos. Essa experiência a ajudou no marketing do livro?
Não. São coisas diferentes. Odiava um dos meus últimos
trabalhos e escrever foi minha maneira de escapar disso.
Os direitos do seu livro foram comprados por
US$ 5 milhões...
Não vou falar sobre o dinheiro. O projeto está indo para
frente, lentamente.